quarta-feira, 19 de julho de 2006

Da solidão

A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.
A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo, o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.
O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e de ferir-se, o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.
Para Viver um Grande Amor, de Vinicius de Moraes

Mas...
Eu amo e quero amar mais e mais!
Quero dar amor, amizade, socorro... e, sem medos, deixar de estar só. (Nem que tenha de correr com esta estúpida solidão à marrada.)

4 comentários:

shark disse...

Ainda a propósito da águia "em terra", mas também na sequência deste post, aqui há tempos publiquei no charco uma cena acerca da solidão que rezava assim:
Não há maior solidão do que quando somos dois com a pessoa errada.
Lapidar, não? :)

Anónimo disse...

Conheço bem esse sentimento, mas passei a gozar a minha própria solidão ou a mascará-la. Olha, já é oficial. Se queres saber o projecto de que te falei há alguns dias, é só ires lendo o Diário de Aveiro à quarta-feira.

Fada do mar disse...

Lapidar, Shark, e comprovada pela experiência, "mestre das ciências todas".

Eu cá não mascaro nada, Paula!
O quê?! Livra-te de falar da Fada no DA, amiga! ;-)

Paulo: eu quero ser luz, eu quero ser farol, eu quero salvar alguém.
Obrigada por me teres feito recordar o Roberto; não poderia vir mais a propósito. O poema de que falas é este, não é?

Pienso que en este momento
tal vez nadie en el universo piensa en mí,
que solo yo me pienso,
y si ahora muriesse,
nadie, ni yo, me pensaría.

Y aquí empieza el abismo,
como cuando me duermo.
Soy mi propio sostén y me lo quito.
Contribuyo a tapizar de ausencia todo.

tal vez se por esto
que pensar en un hombre
se parece a salvarlo.

Fada do mar disse...

Um poema fantástico, Paulo, e que traduzia tão bem o meu sentimento naquele dia!...
Obrigada, uma vez mais, por teres trazido até mim os dois últimos versos desta maravilha.