quinta-feira, 29 de junho de 2006

Noites sem son(h)o

Quando o medo de sonhar se transformava em dor tu vinhas e eu descansava no teu abraço.
"Tens mãos de pétalas"- costumavas dizer.
"Sou rosa" - deixava escapar, com risinho maroto.
E sorrias e deixavas-te envolver pelo perfume doce dos espinhos.
Começavam assim as nossas noites.
Pintava-te e dizia-te de cor. Eras tela e poema.
Mas nunca soubeste poesia e perdi-te entre metáforas e hiperboles.
Não soubeste buscar(-me) a rima e cruzando-me, interpolada, fiquei só em verso solto.
Percebo agora, à distância de tantas aliterações, que foi um mero erro de métrica.

Apetece-me tanto usar as letrinhas! Isto acontece sempre que tenho de escrever relatórios e despachar outras burocracias... e a madrugada avança com vozes de pedra.
Vim assim de fugida... pelo prazer, para o prazer.

1 comentário:

Anónimo disse...

É frequente acontecer-me isso também. Quando ando envolta em palavras burocráticas, apetece-me envolver-me em palavras poéticas... Muito bonito.